24/11/2025

BC segurou liquidação no Master para evitar ‘risco de Banco Ipiranga’ e quebra do BRB

Por Alvaro Gribel
Fonte: O Estadão
O Banco Central tinha duas preocupações imediatas no caso do Banco
Master: evitar a quebra do Banco do Brasília (BRB), após descobrir, no início
do ano, que ele vinha comprando bilhões em carteiras podres do Master, e
evitar que uma provável liquidação do banco privado levasse a questionamentos
jurídicos que virassem indenização bilionária a ser paga pela União.
A estratégia foi obrigar os controladores do Master a fazer aportes no banco,
que seriam redirecionados para cobrir o rombo do BRB, e aguardar as
investigações da Polícia Federal que poderiam levar a uma eventual prisão do
banqueiro Daniel Vorcaro. Em paralelo, o Fundo Garantidor de Créditos
(FGC) abriria uma linha de R$ 4 bilhões para o Master, mas com a condição
de que, para cada real emprestado, os donos do Master fizessem aportes na
mesma proporção.
Por isso, a prisão e a liquidação aconteceram no mesmo dia, mas após meses de
investigações e transfusões de recursos do Master para o BRB. A decisão
judicial que levou Vorcaro para trás das grades também significou o fim dos
aportes e o fim da linha do FGC para o Master. Assim, o BC poderia decretar
a liquidação do Master, mas agora com forte sustentação e amparo legal.
Um exemplo citado por técnicos do Banco Central é a liquidação do Banco
Ipiranga, nos anos 70. Hoje, advogados tentam no Superior Tribunal de Justiça
(STJ) receber uma indenização bilionária da União, porque alegam que o
Ipiranga foi liquidado quando ainda poderia ter vendido ativos e se mantido de
pé. Uma das preocupações era evitar a repetição de um cenário como esse.
O BRB ainda é motivo de atenção no sistema financeiro. O banco estatal
conseguiu recuperar os R$ 12 bilhões das carteiras podres que comprou do
Master, mas cerca de R$ 3 bilhões vieram de aportes dos controladores do
Master e R$ 9 bilhões de ativos do banco, como carteiras de crédito e imóveis
que foram reavaliados.
O risco é que esses ativos “não performem”, como se diz no jargão do mercado
financeiro, o que pode exigir aportes do acionista controlador -no caso, o
governo do Distrito Federal. Por isso, o BC continuará acompanhando com
lupa cada passo do Banco de Brasília, que já foi proibido de comprar carteiras
de crédito de outras instituições financeiras.
Renato Gomes, indicado por Bolsonaro, e Ailton de Aquino, indicado por Lula,
foram os diretores que destrincharam esse emaranhado técnico e que se
desenrolou pelos últimos 11 meses.
Com amparo legal, eles suportaram as pressões políticas de Brasília, que
incluíram a tentativa pela Câmara de aprovar um projeto que diminuiria a
independência do BC.